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Direção do MACC repudia ato de intolerância em exposição sobre Frida Kahlo

Tamoios News

A direção do MACC-Museu de Arte e Cultura de Caraguatatuba publicou uma nota de repúdio nesta sexta(2o). Grupo ou grupos radicais tentam boicotar a exposição sobre a pintora mexicana Frida Kahlo, que acontece no Museu Adaly Coelhos Passos, principal polo de cultura de Caraguatatuba.  Tudo indica, que este seja o primeiro ato de intolerância cultural ocorrido na região

Por Salim Burihan

O MACC apresenta a exposição “Todos Podem ser Frida”, da fotógrafa Camila Fontenele que é composta por retratos de pessoas caracterizadas como a artista plástica Frida Kahlo.

No livro de registro das pessoas que visitam a exposição, que feita em parceria com o Museu da Diversidade e o projeto criado pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, apareceu a mensagem ” Esquerdista bom é esquerdista morto”, no alto de uma das páginas.

A direção do MACC  decidiu publicar uma nota de repúdio à iniciativa de intolerância que vem recebendo o apoio de artistas, músicos, artesãos, escultores, escritores, poetas, jornalistas, comerciantes e políticos da  da cidade e região.

Extraoficialmente teria o primeiro ato de intolerância registrado este ano na região. Apesar das pressões, segundo consta, um grupo estaria usando whatsApp para protestar arrecadar e manifestantes contra a mostra, a  exposição continua até o dia 6 de janeiro.

A exposição “Todos Podem Ser Frida”, além das fotos conta também com interatividade: existe um ambiente com cenário, tiaras, tecidos e maquiagens para quem desejar ter seu momento Frida, uma experiência cativante. Muitas das pessoas inclusive com seus filhos fizeram fotos estilizadas como Frida.

A mostra já percorreu quatro estados do Brasil (SP, RJ, MG e ES) e internacionalmente passou por Caserta (Itália), Londres (Inglaterra) e Léon (México).

A proposta, segundo a autora, “é capturar as conexões existentes entre arte, identidade de gênero e comportamento social para referenciar a história de vida da artista mexicana Frida Kahlo”.

Frida, pintora mexicana de destaque internacional

 

Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón , a pintora Frida Kahlo, viveu intensamente questionando os padrões sociais de sua época e trazendo à tona as várias nuances do ser humano. No início dos anos 1990, ela tornou-se uma figura reconhecida na história da arte, mas também considerada um ícone para o movimento feminista e o movimento LGBTQ. Frida nasceu em 6 de julho de 1907, em Coyoacán, na Cidade do México e morreu em 1’3 de julho de 1954, na mesma cidade.

“Seu trabalho tem sido celebrado internacionalmente como emblemático das tradições nacionais e indígenas mexicanas e visto como uma descrição intransigente da experiência e forma feminina”, explica a curadora do MACC, Hawiza Bañeza.

 

NOTA OFICIAL DE REPÚDIO

“Sobre o enfrentamento daquilo que não pertence ao campo do “eu”.

Recebemos uma notificação sobre uma a foto que circula em grupos de whatsapp de um recado deixado em nosso livro de assinaturas da exposição “Todos Podem Ser Frida”.

O Museu de Arte e Cultura de Caraguatatuba é o único museu da cidade, fundado em 2002 pelo Governo Municipal e pela Fundação Educacional e Cultural de Caraguatatuba, sendo por isso o museu de arte mais antigo do Litoral Norte de São Paulo, instalado no antigo edifício do Grupo Escolar Professora Adaly Coelho Passos, criado em 1941 e desativado em 2001.

Sua tipologia é museu de arte, mas também dispõe de parte do acervo e uma galeria de exposição permanente histórica da cidade, maquete e um cenário de casa tradicional caiçara. Nas galerias de exposição temporária apresentam quase que mensalmente exposições variadas de arte.

Em recente parceria com o Museu da Diversidade recebemos o projeto criado pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, a mostra da fotógrafa Camila Fontenele é composta por retratos de pessoas caracterizadas como a artista plástica Frida Kahlo.

“Todos Podem ser Frida” é uma exposição lúdica e participativa, onde os visitantes têm a possibilidade de se caracterizarem com adereços representativos da artista mexicana, que se transformou em símbolo dos direitos humanos, principalmente na luta pela equidade entre mulheres e homens. A multiplicidade de imagens que compõem a exposição a partir das fotografias tiradas do público é uma celebração da diversidade humana, incluindo a visibilidade de pessoas com deficiência, diferentes raças e etnias, gêneros e identidades, com a intenção de incentivar uma cultura de paz e respeito pelas diferenças.

Historicamente, sempre foi muito difícil saber lidar com as diferenças e extermínios, promovidos em nome da visão homogênea e totalizante de mundo. Hoje, em pleno século XXI, no contexto dinâmico do estreitamento há uma efervescência direcionada ao extermínio do que é avesso ao nosso senso de pertencimento. O “eu” se fecha a partir da falta do diálogo com o “outro”. Então, precisamos conversar sobre o fechamento dicotômico que interdita a relação com o “outro”, anula a transcendência da reflexão e apaga do pensamento a diferença à própria condição humana.

As diferenças, por si só, não são um problema. Por outro lado, a ameaça às diferenças é um problema imenso. O objetivo da ameaça é demonizar e aniquilar a diferença. O discurso de ódio ritualiza o caminho dessa saga de destruição do “outro”. Com isso, o fechamento às diferenças produz a morte da divergência, sendo que o “outro” vira um bode expiatório para todos os males. É algo muito além do jargão “esquerdista bom é esquerdista morto”.

A arte não impõe seu conteúdo, ele é mutante demais para isso: ela manifesta objetos que demandam compreensão e cuja mensagem é dada à discussão, à discordância, ao incômodo, à fruição, fazendo-nos ver o que devolvemos ao mundo a partir dos estímulos que nos promove e, assim, enxergando as brechas de nós mesmos.

Somos uma instituição de arte, democrática, aberta ao divergente bom e vivo. Repudiamos toda e qualquer manifestação de ódio e intolerância. Ademais, somos e estamos completamente abertos ao diálogo.

MUSEU DE ARTE E CULTURA DE CARAGUATATUBA
20 DE DEZEMBRO DE 2019