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Paternidade, uma mudança pessoal, de vida e de conceito

Tamoios News
Israel Leite e sua filha Lara contemplam a paisagem / Foto: Arquivo Pessoal Israel

Quando se fala em filhos, é comum ouvir relatos sobre as mudanças que a mulher sofre na vida. Porém, o homem participativo, que acompanha de fato a vida da criança, também passa por transformações, principalmente pessoais, além de sofrer com as mudanças na rotina.

“Toda a dinâmica e rotina da casa muda. Com o decorrer dos anos, tem-se percebido o quanto o papel do homem/pai é fundamental para o desenvolvimento de um lar saudável e equilibrado. O pai tem a função de acolher, assegurar e proteger a família diante das mudanças com a chegada do filho”, diz a psicóloga Kelly Scatena.

E a figura desse pai participativo vem aumentando cada vez mais, o que é muito importante, pois, segundo Kelly, hoje é possível entender a importância do papel do homem na construção da história e identidade do filho.

“Os pais são modelos comportamentais e, como isso será passado para os seus descendentes, é o que fará diferença em como essa criança se desenvolverá e como se comportará como um adulto. A importância da figura paterna está relacionada a produção de segurança, limites e atribuição de afeto para o desenvolvimento de seu filho”, completa a psicóloga.

Os papais que estão mais empenhados na criação e educação dos filhos (as), além das mudanças com a rotina, também adquirem uma nova percepção de mundo. Foi o que aconteceu com Israel Leite, pai de Lara, nove anos. Ele conta que sua vida mudou desde a primeira vez que ouviu o choro da filha. “Eu olhava para ela e me perguntava: como posso amar tanto esse pequeno ser que acaba de chegar?”

Uma nova descoberta também na forma de amar. “Um amor incondicional, uma consciência (ou inconsciência) repentina de que eu seria capaz de dar a minha vida por ela. Ser pai me trouxe maturidade não só como pai, mas também como filho, passei a entender ainda mais os meus pais”, diz Israel.

 

Israel e sua filha Lara / Foto: Acervo Pessoal

O Bombeiro Militar Elias Barbarossi, também é pai de uma menina de nove anos, a Maria Eduarda, chamada carinhosamente de Dudinha. Ele conta que tudo mudou no momento em que a filha nasceu, e que também descobriu o significado do amor incondicional. “Descobri o que é o amor verdadeiro, sincero e espontâneo apenas com um simples olhar e um sorriso”, revela.

Além da mudança do homem, o conceito de paternidade também mudou. O pai “moderno” está mais participativo não só na educação dos filhos, mas no dia a dia da criança, contribuindo ainda mais com o desenvolvimento infantil.

“Como as mulheres estão, cada vez mais enfrentando o mercado de trabalho, se ausentando das atividades diárias domésticas, a participação dos pais tem se tornado mais frequente e comum”, diz Kelly. Por isso, “é relevante e importante a participação dos pais não só na educação, mas também na convivência diária”, completa.

Elias e Maria Eduarda / Foto: Acervo Pessoal

Ivan Bottene é médico e papai da pequena Serena, de dois anos e meio. Ele reveza plantões no hospital por turnos puxados com a pequena. Uma dupla jornada, que, apesar de corrida e cansativa, trouxe mais alegria à sua vida. “Deu o verdadeiro sentido à minha vida, que eu nem sabia que precisava. Deu forças sobre-humanas para crescer no âmbito pessoal e profissional”, revela Ivan.

Ter filhos é estar em aprendizado constante e ter surpresas diariamente. E quando o pai consegue viver momentos de qualidade com a criança, o relacionamento se fortalece e o vínculo aumenta, assim como o de Ivan e Serena. “É perfeito, respeitoso, cheio de amor e carinho. Um presente diário”, ele comenta.

Ivan Bottene e Serena / Foto: Acervo Pessoal

As mudanças na paternidade atual também podem ser percebidas no cuidado do homem com a casa e nos momentos de lazer com os filhos. “Apesar da responsabilidade da formação da minha filha, temos um relacionamento maravilhoso e natural. No dia a dia as conversas e brincadeiras são algo totalmente único, a cada dia um aprendizado novo”, conta Barbarossi.

Até mesmo quando a distância se faz presente, a presença na vida da filha supera qualquer quilometragem. Como no caso de Israel e Lara, que moram distantes 80km um do outro. “Meu relacionamento hoje com a minha filha, apesar de não morarmos na mesma casa e muito menos na mesma cidade, é o melhor e mais próximo que a distância nos permite”, diz.

Para conciliar a rotina e manter a conexão entre os dois, os dias de visita são fixos. “Nos vemos todas as quartas-feiras e aos fins de semana, e utilizamos da tecnologia para nos manter conectados. Chamadas de vídeo e troca de mensagens fazem parte da nossa rotina diária. Nos “nossos dias” estou 100% disponível pra ela. Andar de skate, patins, praia, videogame e cinema fazem parte da nossa agenda”, revela.

Foto: Acervo Pessoal Israel

Porém, mais do que fortalecer o relacionamento e prover qualidade de vida, o que os papais mais querem é dar e ser bons exemplos para as crianças. “Meu principal papel é ser a melhor referência de homem/pai para vida dela. Ser exemplo de valores e princípios relacionados à Deus, família e sociedade. Para que ela jamais tenha dúvidas de que ela é uma filha amada, e que eu estarei sempre ao lado dela para dar suporte no caminho dessa grande jornada que se chama vida”, revela Israel.

Para Barbarossi, o seu amor de pai para sua filha é fazer sempre o melhor por ela. “Ensinar e mostrar o caminho que se deve percorrer, dando muito carinho e respeito, pra que ela aprenda a respeitar o próximo”.

Além de exemplo, Ivan vê a paternidade como uma maneira importante de preparar a filha para a vida. “Essencial para dar um futuro com muitas possibilidades. E para que ela se torne uma mulher forte, autossuficiente, cheia de amor-próprio, e para que não precise se sujeitar a nada de ninguém e consiga sempre ser autêntica”, finaliza.

Foto: Acervo Pessoal Ivan

Que os papais presentes e participativos, como Elias, Israel e Ivan, incentivem e sejam bons exemplos não somente para seus filhos, mas para outros homens. Pois o número de pais ausentes ainda é grande no Brasil.

Só em 2022, até o momento, das crianças que nasceram, 104.962 foram registradas somente com o nome da mãe. Só no estado de São Paulo foram 18.244 e no Litoral Norte 187 registros. Os dados são da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) e podem ser conferidos no Portal da Transparência do Registro Civil.

“O fato dos pais não estarem juntos, não muda a função e responsabilidade que ambos têm na educação e desenvolvimento dos filhos. O ideal é que ambos tenham maturidade para decidir o que será melhor para a criança, onde o bem-estar dos filhos seja sempre prioridade”, conclui Kelly.

Por Cynthia Louzada / Redação Tamoios News