Instituto Oceanográfico da USP apura percepção da comunidade sobre Baía do Araçá para diagnóstico social, que inclui conhecimento sobre importância e utilização no futuro
Por Nívia Alencar
O biólogo Alexander Turra, docente do Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo), é um dos coordenadores do projeto Biota Araçá, que estabelece diálogo entre a universidade, moradores do entorno da baía e todas as pessoas da sociedade interessadas na manutenção desta área que evolve o mangue. Este projeto já resultou no livro “Vida na Baía do Araçá – Diversidade e Importância”, lançado em 2015. O projeto também inclui série de entrevistas e oficinas comunitárias. No domingo, 20, foi realizada a segunda oficina “Vamos falar sobre o Araçá?”, na Praia do Altivo, parte do mangue do Araçá.
O objetivo da segunda oficina foi responder “O que é o Araçá para você e quais são os limites da baía ou até onde ela vai”. Conforme Turra, a região do Araçá está inserida na APA Marinha (Área de Proteção Ambiental) do Litoral Norte. “Para o Plano de Manejo da APA será necessário mapeamento sobre os limites da Baía do Araçá. Por isto, pretendemos subsidiar a APA com informações baseadas nas percepções das pessoas que vivem aqui e nos dados científicos que foram apurados pelo Projeto Biota/FAPESP-Araçá. Em novo momento, discutiremos com representantes da sociedade e no âmbito da APA propostas relacionadas ao futuro do Araçá”, esclarece o professor.
Ele afirma que a comunidade da Baía do Araçá conhece a importância deste ecossistema. “Este aspecto é muito claro, os moradores compreendem que a baía tem várias relevâncias, entre elas para coleta de alimentos, recreação e atracação de embarcações, inclusive da comunidade da praia do Bonete, em Ilhabela. Os moradores conhecem a dinâmica da baía, a questão das marés e a relação com o Canal de São Sebastião”.
Nesta segunda oficina houve também discussão sobre as fragilidades do Araçá, com suas potencialidades e riscos atuais e futuros. “Devemos pensar também em alternativas para a baía. Será que a expansão portuária é a única alternativa?”, questiona Turra.
Para o biólogo, o projeto atual de desenvolvimento do Porto é incompatível com a manutenção de vida na Baía do Araçá. “Ela tem a funcionalidade de depurar a área, graças ao fitoplâncton. Sem a luz solar este processo não será possível, imagine, com a morte destes microorganismos, não suportaríamos estar aqui em razão do mau cheiro”, explica.
Ainda de acordo com Turra, dados científicos relevantes nem ao menos são mencionados nos documentos que embasaram a licença ambiental de ampliação do Porto de São Sebastião. Alternativas logísticas e locacionais não foram consideradas de fato. “Se a lógica do porto é trabalhar com granel líquido (óleo, gás, etanol) não há necessidade de estrada. Se a lógica está voltada à carga de alta tecnologia e por meio de contêineres, a alternativa poderia ser ferrovia. Desde 2007, sabe-se que o Litoral Norte vive grande aumento demográfico, decorrente do porto e do pré-sal, tudo com base em especulação, o que implica em impactos como a ocupação desordenada, poluição, e ainda não temos saneamento básico, esgoto coletado e tratado de forma suficiente e eficiente”, afirma. “Quem conhece o Litoral Norte entende que esta conjunção de montanhas, vegetação e mar é algo enigmático, maravilhoso”, diz o professor, que também considera que para o porto de São Sebastião caberia modernização e adequação para dinamizá-lo, sem afetar as correntes marítimas, a hidrodinâmica da baía, com ampliação passível somente na área norte do Canal.
Outras três oficinas comunitárias serão realizadas, sendo uma em novembro e duas em 2016.