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Retomada de aulas presenciais preocupa pais, alunos e professores

Tamoios News

As prefeituras da região começam a se movimentar visando à retomada das aulas, possivelmente, em setembro, com segurança para diretores, professores, servidores e alunos. As escolas estão fechadas desde a segunda quinzena de março devido a pandemia do novo coronavírus. Algumas prefeituras adotaram o sistema online, outras distribuem material didático para os alunos estudarem em suas casas.

Os números de casos e mortes pela Covid-19 continuam crescendo no Litoral Norte. Já são quase 3 mil casos confirmados e 98 mortes. Nesta realidade, a volta das aulas vem preocupando as autoridades, professores, alunos e pais de alunos.

Na região, 53 mil alunos e 3.500 professores da rede pública aguardam a definição pelo estado e prefeituras sobre o reinício das aulas. A previsão do governo do estado é que o reinício ocorra a partir de 8 de setembro nas escolas públicas e particulares. As prefeituras são autônomas para regulamentar o plano de retomada.

O cronograma de reabertura das escolas está diretamente condicionado às fases de flexibilização do Plano São Paulo. A retomada das aulas presenciais só vai acontecer se todas as regiões do estado permanecerem na etapa amarela – a terceira menos restritiva segundo critérios de capacidade hospitalar e progressão da pandemia – por 28 dias consecutivos.

Cada escola poderá trabalhar com até 35% da capacidade total em sala de aula, ou seja, um grupo de alunos tem aulas presencial e o restante atividades remotas. Cada escola deverá definir o revezamento de alunos, e cada estudante deverá ter ao menos um dia de aula presencial por semana.

A retomada das aulas no Litoral Norte está gerando muita polêmica. Para pais de alunos, professores e alunos ouvidos pelo Tamoios News, o reinício das aulas deve ser suspenso, pois continuam crescendo os números de casos e mortes pela covid-19 na região.

Em São Sebastião, foi iniciada uma petição online cobrando do governo do estado que retomada das aulas seja adiada, por questões de saúde.

Prefeituras

Em Caraguatatuba, a Secretaria de Educação promove nesta quarta-feira(29) a eleição do comitê de Elaboração do Plano de Retomada das Aulas Presenciais que irá avaliar o reinício do ano letivo. O comitê composto por 38 membros irá aprofundar a questão, principalmente, com relação à saúde de funcionários e alunos. A cidade tem 20 mil alunos, 1.400 professores e 52 unidades escolares.

Segundo a secretária Márcia Paiva retorno deverá ser feito com muita segurança para todos

“Procuramos democratizar a participação de todos os segmentos envolvidos na educação através da criação do Comitê para Elaboração do Plano de Retomada das Aulas Presenciais, que representa os diversos setores da sociedade. É importante ressaltar que não temos data definida para o retorno das aulas, mas elaborando o Plano estaremos preparados para um retorno com segurança”, comentou a secretária municipal de Educação, Márcia Paiva.

Segundo ela, esse é o objetivo desse comitê. “Criar formas e organizar as escolas para que retornemos em segurança, sempre seguindo os protocolos recomendados pelo Ministério da Saúde.  Também frisamos que só voltaremos ao ensino presencial se todos estivermos muito tranquilos em relação à garantia da segurança sanitária dos alunos e servidores que atuam diretamente com eles”, finalizou.

 

A secretária municipal de Educação de Ubatuba, Pollyana Gama, disse que existe um comitê de crise, na secretaria, específico para tratar desse assunto. Segundo ela, o retorno das aulas no dia 8 de setembro ainda não tem uma confirmação, pelo contrário, o estado já acenou sobre um possível adiamento dessa data.

Pollyana Gama,: discussão sobre retomada envolve pais de alunos

“O nosso retorno tem como condicionante reunir condições de saúde para que possamos receber os alunos com segurança. O comitê avalia como ocorreu o retorno das aulas em outros países, estuda os protocolos de saúde, os equipamentos necessários para cada escola, como de proteção individual(os IPIs), máscaras, álcool gel, tudo isso para garantir uma retomada segura para todos. Já estruturamos um questionário para avaliação de  pais e professores. Precisamos saber principalmente condições das famílias e questões de saúde emocional de todos”, explicou. Ubatuba tem cerca de 11 mil alunos e 750 professores nas 48 unidades da rede pública.

 

Em Ilhabela, a Secretaria de Educação de Ilhabela iniciou na semana passada, uma pesquisa entre os pais ou responsáveis pelos alunos da rede municipal, sobre a possibilidade de retorno das atividades escolares presenciais. Ilhabela tem 7 mil alunos e 500 professores em 37 unidades escolares.

O secretário municipal de Educação, João Paulo de Souza, entende que a pesquisa irá contribuir para o planejamento da pasta, caso as atividades presenciais sejam retomadas.

“Pedimos aos pais e responsáveis que preencham e enviem o formulário com todas as questões respondidas. A partir dessas respostas, faremos todo o planejamento de retomada ou novas ações e adequações para as atividades escolares”, explicou o secretário e professor, João Paulo de Souza.

Segundo a prefeitura, o formulário está sendo enviado pela escola para os grupos de pais. Para os pais ou responsáveis que não possuem acesso à internet, o questionário poderá ser retirado na escola, diante de agendamento.

Aluno

Paulo Roberto, de 13 anos, prefere ficar no online, pois tem receio de frequentar a escola durante a pandemia

“Não gostaria de retornar as aulas, prefiro estudar online. A doença é muito perigosa, por isso, evito sair de casa. Às vezes, dou uma volta de carro com a minha mãe para ver a praia. Gostaria apenas que a prefeitura melhorasse as aulas online, acho que poderia ser melhor, mais inovadora…gostaria de apreender a fazer vídeos e ter acesso a outros aplicativos”, comentou o aluno Paulo Roberto, de 13 anos, que cursa o oitavo ano letivo em escola municipal de Caraguatatuba.

Mãe de aluno

“Não acho que seja o momento adequado para as aulas serem reiniciadas. Não sinto segurança em enviar meus dois filhos para a escola. A cidade continua com muitos casos e mortes, preocupa a gente. Não deixo meus filhos saírem de casa para nada. Prefiro que eles continuem com as aulas online até terminar o ano letivo. É preciso, no entanto, melhorar as aulas virtuais. O sistema utilizado permite apenas receber e retornar as tarefas. É preciso ampliar as ferramentas e as atividades”, comentou Vanessa Antunes, que tem dois filhos, um de 13 e outro de 8 anos, em escola pública de Caraguatatuba.

Professor

Para o professor Gleivison Gaspar ainda não é momento para retomar as aulas presenciais

“Vejo com preocupação essa possibilidade de volta; precisaríamos antes, avançar na ciência. Lidar com a energia das crianças não é uma questão protocolar”, comentou o professor Gleivison Gaspar, de São Sebastião.

Segundo ele, a situação preocupa também os professores. “Muito preocupante também, pois o professor é quem mais circula entre turmas diferentes”, concluiu.

A cidade de São Sebastião lidera o número de casos na região, com 968 notificações positivas e 17 mortes pela doença. A rede municipal de ensino conta com 15 mil alunos e 850 professores distribuídos em 64 unidades.

 

Petição

Marcela Vanesa de Campos Siciliano, de São Sebastião, mãe, estudante de Pedagogia e ativista, idealizadora do movimento “Educação que Respeita a Vida”, iniciou em junho uma petição online cobrando do governador João Doria que a retomada das aulas presenciais seja suspensa no estado de São Paulo. A petição conta com 671 assinaturas.

Para Marcela, não é o momento de retornar às aulas. Não é seguro.

“Não é o momento de retornar às aulas. Não é seguro. O número de infectados e mortos continua alto. Escola é lugar propício à difusão de doenças, devido à aglomeração. Nenhum país no mundo retornou às aulas enquanto a curva estava no pico, como a nossa. E mesmo quando a curva caiu, muitos tiveram de fechar as escolas de novo porque a contaminação subiu. Pela proteção da vida das crianças, dever de todos, inclusive do setor público, que está querendo se omitir, só devemos retomar as aulas presenciais quando houver uma vacina”, comentou Marcela.