Caraguatatuba Causos e estórias

Lei impediu Caraguá de ter o primeiro cassino na região

Tamoios News

Foi na década de 40, quando cassinos e jogos de azar eram permitidos pelo governo. Proposta de deputado era atrair turistas para a cidade, mas o então presidente Dutra, pressionado pela igreja e por sua mulher, decidiu proibir os jogos de azar no país

Por Salim Burihan

A liberação dos jogos de azar no país ainda depende de aprovação de um projeto de lei, pela Câmara Federal.

Segundo as últimas informações, a prioridade dos legisladores vai para a liberação dos grandes “cassinos resorts”, deixando os bicheiros e as casas de bingo esperando mais um pouco.

É que, segundo consta, os grandes cassinos seriam mais fáceis de serem controlados pelo governo federal e seriam os grandes responsáveis pela criação de emprego no setor do turismo.

O projeto de lei, ainda em discussão na Câmara Federal, aponta que estados até 15 milhões de habitantes receberiam um cassino desse gênero, com licença para atuar durante 30 anos; estados entre 15 e 25 milhões receberiam dois estabelecimentos, e estados com mais de 25 milhões acolheriam três cassinos.

São Paulo

O estado de São Paulo é um dos mercados mais desejados. Investidores de Las Vegas demonstram muito interesse em investir nos hotéis cassinos do estado.

Nos meios políticos, segundo consta, existem propostas para implantação de cassinos, caso a lei seja aprovada, na capital, no Guarujá, em Ubatuba e Ilhabela, em Campos do Jordão.

No Litoral Norte, alguns hotéis, principalmente, em Ilhabela e Ubatuba, estariam aguardando a definição da legislação para se transformarem em hotéis cassinos.

Memória

O Litoral Norte já teve a oportunidade de ter seu primeiro cassino. Isso ocorreu no início da década de 40, por iniciativa, do então deputado Diógenes Ribeiro de Lima, que adorava jogar e era um frequentado de Caraguá.

A proposta de Diógenes era transformar o cassino num dos principais atrativos da cidade. Tudo estava bem encaminhado. O cassino seria construído no alto do Morro do Camaroeiro, com esplendorosa vista para a baia de Caraguatatuba.

O deputado acreditava que o cassino iria incentivar o turismo na cidade e com isso, gerar emprego e renda para a população local. Naquela época, existiam 70 cassinos no país, alguns deles, em Poços de Caldas(SP) e Petrópolis(RJ)

O projeto tinha sido discutido como os interventores do estado (pessoas nomeadas pelo governo federal para governar o estado), Fernando de Souza Costa e posteriormente, José Carlos de Macedo Soares.

Diógenes também vinha discutindo o projeto com o então prefeito da cidade, Joaquim Evilásio do Amaral, que teria ficado encantado com a ideia. Caraguá, na época, era uma cidade sem grande movimentação turística e sua economia dependia da venda de peixe e da Fazenda dos Ingleses.

Mureta na avenida da praia foi conquista de Diógenes

Consta que, por causa da possível implantação do cassino, Diógenes teria obtido recursos do estado para construir as muretas ao longo da praia do centro e iniciado o decreto lei, que transformaria em 1947, Caraguá em estância balneária.

IA transformação em estância permitiria que a cidade recebesse recursos do estado e também, a possibilidade de ter um cassino, que na época só era permitido em cidade turística.

O projeto do cassino, que seria construído, no alto do Camaroeiro, entusiasmou o então deputado, que liderou a política na cidade durante muitos anos. Tudo ia muito bem. Acontece que, um decreto do então presidente Eurico Gaspar Dutra, em abril de 1946, proibiu os jogos de azar no país.

Segundo consta, Dutra proibiu os cassinos, por pressão de sua mulher e, da igreja católica, que eram contra os jogos de azar. O projeto do cassino, em Caraguá, foi por água abaixo.

 

Diógenes

Deputado Diógenes Ribeiro de Lima

Diógenes Ribeiro de Lima foi professor e um dos políticos mais envolvidos com Caraguatatuba. Como deputado, ajudou e muito o município. Não é a toa que seu nome foi concedido a uma das principais praças da cidade, a praça da Secretaria de Turismo, em frente a praia central.

Diógenes nasceu em São Paulo, em 12 de abril de 1896. Formou-se professor pela Escola Normal Caetano de Campos, em 1916. Em 1920, pegou um barco, em Santos, para vir até Caraguá, na época, não havia acesso por terra até a cidade

Deu aulas nas Escolas Reunidas de Caraguatatuba (onde hoje funciona o Museu Adaly Coelho Passos). Em Caraguá, namorou a professora Alice Leite. Casou com ela, tendo como padrinhos Teotino Tibiriça Pimenta e Luiz Passos Júnior. Foi proprietário de uma casa na avenida Arthur Costa Filho, que foi demolida e, atualmente, serve como estacionamento.

Como professor trabalhou também nas cidades de Monte Azul e Bariri. Formou-se advogado em 1924 pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP). Publicou vários trabalhos jurídicos. Atuou ainda, como suplente de juiz federal em São Paulo (1925), juiz de Paz e delegado de polícia(1924 e 1925) e como membro do Congresso do Ministério Público.

 

Diógenes foi vereador em São Paulo por dois mandatos, de 1926 a 1930. Participou da Revolução de 1932, como subcomandante do Batalhão Bahia. Elegeu-se deputado estadual em 1935, quando participou da Constituição de 1935. Como deputado foi um dos políticos que mais ajudou Caraguatatuba.

Foi graças a ele que a cidade melhorou e muito a sua infraestrutura física. Poucos sabem, a tradicional mureta da avenida da praia do centro foi feita por iniciativa de Diógenes( em 2000, a mureta antiga foi demolida e substituída por outra).

Como deputado, ele transformou a cidade, de fato, em uma estância balneária, através do decreto-lei nº 38, de 30 de dezembro de 1947.

Por iniciativa de Diógenes, em 1948, um decreto do governador Adhemar de Barros, ampliou o território de Caraguá em direção à região sul. O limite de Caraguá, com São Sebastião, era o rio Juqueriquerê, com o decreto do governador, o limite entre as duas cidades passou a ser o rio Perequê-Mirim.

Diógenes era um apaixonado pela cidade e como político procurava defender ao máximo dos interesses do município. Ele foi presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, entre março de 1951 e março de 1952. Ele faleceu em 1º de outubro de 1954, em plena campanha eleitoral, mesmo assim, o povo da região foi fiel a ele: mesmo morto foi o deputado mais votado em Caraguá e nas cidades da região.

 

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